Principais componentes de uma industria
Geralmente, ao pensar em uma indústria, nos vem na cabeça somente a linha principal onde é feito o equipamento. Mas esquecemos tudo o que está envolvido nos arredores para tornar aquele processo viável.
Para alguém que só está interessado em saber como é feito um produto, não faz diferença. Mas que está enolvido no projeto de uma indústria não pode deixar nenhum destes assuntos de lado.
Vamos ver cada um dos componentes com uma descrição e obrigatoriedade.
Entradas e saídas
Se possível, evitar que os veículos precisem se cruzar nas entradas e saídas, colocando-os em lados opostos da fábrica e utilizando vias diferentes.
Os caminhões precisam poder entrar de ré. Certifique-se de possuir área de manobra suficiente, principalmente se estiver posicionado próximo a uma via movimentada.
Prefira utilizar portões diferentes para realizar a carga e descarga. Caso isso não seja possível, delimite um horário para carga, por exemplo o período da manhã, e um horário para descarga, para facilitar a circulação de pessoas e também minimizar o risco de contaminação cruzada se for o caso.
Recebimento e armazenamento de matéria prima
Se o recebimento for feito em caminhões pode ser interessante construir docas.
Se for feito a granel em caminhões basculantes pode ser construído uma moega para armazenar o grão ou para transportá-lo para algum silo onde será feito o armazenamento.
Caso o recebimento seja feito em big-bags, recomenda-se o uso de um guindaste, que pode já estar instalado no caminhão mas geralmente é instalado no interior da indústria.
O guindaste também pode ser instalado na empilhadeira, utilizando adaptadores.
O mais comum, e em alguns casos obrigatório, é o armazenamento dos produtos em paletes. Além de prevenir contato direto com o chão que pode estar sujo e ao alcance de pragas, também facilita a movimentação da carga através de paleteiras ou empilhadeiras.
Produtos químicos perigosos devem seguir as normas da ABNT NBR 14725, NBR-7500.
O armazenamento de cilindros de gases de alta pressão é feito por meio de três normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR ISO 9809-1 NBR ISO 9809-2, NBR ISO 9809-3, para gases do ar e NBR ISO 11439 para cilindros destinados ao uso de GNV, Gás Natural Veicular.
A Norma Regulamentadora – NR 20 do ministério do trabalho trata, entre outras coisas, sobre o armazenamento de produtos inflamáveis e líquidos combustíveis. Caso deseje se aprofundar mais nas normas, acesse este website ).
O corpo de bombeiros de cada estado irá emitir uma norma técnica ou instrução normativa sobre o armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis. Veja como exemplo na IN 20 do cmbsc
Também é necessário considerar um espaço para a realização das inspeções de qualidade para o recebimento da matéria prima, bem como a contagem e conferência dos itens com a nota fiscal. Caso seja necessário podem ser enviadas amostras para o laboratório para análises mais elaboradas.
Armazenamento e expedição de produto acabado
As mesmas normas aplicáveis para o armazenamento de matérias primas também se aplicam para o produto acabado.
Produtos a granel podem ser transportados em big bags ou descarregados diretamente nos caminhos através de estações de carga.
Os produtos devem estar organizados de acordo com o lote de produção, devidamente identificado.
É extremamente importante organizar o layout e as prateleiras de forma a facilitar o gerenciamento do estoque utilizando a metodologia FIFO (primeiro que entra, primeiro que sai) no gerenciamento da mercadoria no estoque. Um layout mal organizado pode tornar alguns produtos inacessíveis e os operadores poderão negligenciar as regras.
Área da caldeira
A caldeira de vapor saturado é um equipamento perigoso pois apresenta risco de explosão. No brasil, a NR 13 do ministério público do trabalho publicou as normas tanto para sua fabricação quanto para instalação.
A NR trata tanto de aspectos técnicos sobre a construção da caldeira quanto do local onde ela será instalada.
É importante observar também as normas referentes ao armazenamento combustível, seja gás natural, GLP, diesel ou cavaco.
Abastecimento de água
O abastecimento de água pode ser feito tanto pela concessionária local quanto pela captação de água de um rio ou poço. No primeiro caso não será necessário realizar tratamento, a não ser que o processo demande alguma condição específica ou o tratamento de água local não seja suficientemente confiável.
Já a captação da água de rios ou poços precisará passar por um tratamento simples, considerando que não há contaminantes graves na água.
Este tratamento é composto geralmente por um sistema de gradeamento para retirada de galhos e folhas. Um tanque de decantação para retirada de terra e areia e material orgânico, e um filtro para limpeza mais fina e reduzir a turbidez e a cloração ao final do processo para eliminar possíveis micro-organismos.
Neste caso também é importante corrigir a dureza e pH da água, pois esta pode causar danos nas máquinas e tubulações.
Também extremamente importante é a disponibilidade de água para emergência, quando for obrigatório, de acordo com a ( NR 23 e com a NBR 13714)
Normas aplicáveis
Tratamento de efluentes líquidos
Para o design do sistema de tratamento de efluentes é necessário conhecer o efluente que será gerado, tanto em quantidade quanto em composição.
Os efluentes serão categorizados e será definido o método adequado para tratamento de cada um deles e se serão tratados junto ou em sistemas separados. Por exemplo, a água dos refeitórios pode ser tratada com a água dos sanitários, mas deve estar separada da água da limpeza das máquinas de pintura.
Após definida a composição é necessário observar qual os limites de contaminantes determinados pela legislação para a qualidade da água e onde será feito o descarte deste efluente, por exemplo na rede de esgoto doméstico, num curso de água ou em um sumidouro de fossa.
Finalmente, é feita a seleção, dimensionamento e projeto dos equipamentos que farão a descontaminação de água.
Com tudo isso em mãos podemos definir o espaço necessário e o local de instalação do sistema de tratamento de efluentes
Em geral, o tratamento de efluentes, bem como o de água, quando possível é construído a uma distância razoável do restante da fábrica tanto para não atrapalhar a expansão da indústria mas também para evitar incômodos devido ao mal cheiro.
Saiba mais sobre o tratamento de efluentes aqui, ou fale conosco.
Tratamento de efluentes gasosos
Além dos efluentes líquidos temos a liberação de efluentes gasosos através de chaminés ou do sistema de exaustão da indústria.
Restos de combustão, pós coletados na fábrica como de serragem, odores fortes, produtos químicos e gases sulforosos são alguns exemplos dos poluentes que podem ser encontrados no ar. Existe ainda em alguns casos específicos o risco de contaminação biológico.
O tratamento de efluentes gasosos é realizado através de ciclones, precipitadores eletrostáticos, filtros, lavadores de gases e, em alguns casos específicos, coluna de carvão ativado, cada um com sua aplicação específica. (inserir hiperlink)
Em indústrias que emitem odores fortes é necessário tratar o ar para que não cause desconforto na vizinhança, mesmo que os compostos não causem riscos à saúde e ao meio ambiente.
Normas que tratam do assunto:
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 491, DE 19 DE NOVEMBRO DE 2018
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 436, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2011 –Estabelece os limites máximos de emissão depoluentes atmosféricos para fontes fixas instaladas ou com pedido de licença de instalação anteriores a02 de janeiro de 2007
Resolução nº 382, de 26 de dezembro de 2006 – Estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas
Veja quando aplicar cada uma das resoluções citadas anteriormente aqui
HVAC / AVAC – Aquecimento, Ventilação e Ar condicionado
A forma de implementação do HVAC não é muito importante, o principal é alcançar o objetivo final, que é garantir o conforto do ambiente de trabalho para os operadores. O sistema de HVAC não trata somente da temperatura do ar, mas também da qualidade dele.
Pode ser que somente as janelas abertas sejam o suficiente, ou a instalação de exaustores de teto ou ventiladores. Ou então pode ser necessário instalar um ou mais ar-condicionados ou sistema chiller, em indústrias maiores.
Deve ser dada atenção especial para áreas quentes, que requerem sistema de exaustão localizado para retirar o calor excessivo gerado na região ou a umidade.
Áreas com muita produção de pó também devem ter sistema de exaustão, e também áreas onde ocorre o armazenamento de produtos químicos voláteis deve haver exaustão suficiente para que os materiais não apresentem risco à saúde devido a:
- Inalação
- Incêndio, onde deverá ser respeitado o limite de explosividade e, como regra geral, respeitando o mínimo de 5 trocas de ar por hora.
17.8.4.2 A organização deve adotar medidas de controle da temperatura, da velocidade do ar e da umidade com a finalidade de proporcionar conforto térmico nas situações de trabalho, observando-se o parâmetro de faixa de temperatura do ar entre 18 e 25 °C para ambientes climatizados.
Sala de controle e automação
A sala de controle e automação geralmente é instalada próxima a linha de produção e possuem muitas janelas para permitir a melhor visão possível do processo. O isolamento da área de controle é importante para reduzir ruídos, proteger os equipamentos da poluição e isolamento térmico, reduzindo o consumo de energia do sistema de refrigeração.
A área de controle irá conter computadores com um sistema capaz de ler e apresentar as informações coletadas pelos sensores da linha e com capacidade ou não de enviar comandos para as máquinas diretamente através do sistema.
Almoxarifado, depósitos de peças, ferramentas e material de reposição
As peças de reposição de máquinas e as ferramentas não podem ser guardadas nem junto com a matéria prima nem com o produto acabado. O ideal é construir uma sala onde seja possível organizar os equipamentos com prateleiras ou painéis.
Ferramentas e itens pequenos como pregos, parafusos e arruelas oferecem um enorme risco de contaminação dos produtos, por isso é sempre recomendado realizar as manutenções fora da linha de produção, naqueles casos em que é possível.
Caso uma ferramenta como uma chave de fenda caia no interior de um equipamento pode vir a estragar eixos ou bombas e o dano só será visto no startup da linha.
Laboratórios de controle de qualidade
Em algumas indústrias as amostras de produto são coletadas e enviadas para análise somente no final do processo para fins de cumprimento de requisitos legais, como limite de coliformes ou algum tipo de contaminante.
Quando a indústria é pequena este método é suficiente. Pois o custo de instalar, treinar e operar um laboratório interno são altos e podem inviabilizar um pequeno empreendimento.
Porém, conforme a produção aumenta se torna necessário realizar os controles de qualidade de forma mais intensa e as análises obrigatórias já não serão suficientes. Torna-se cada vez mais importante evitar a necessidade de realizar um recall por inconformidades do produto. Mas também interessa à empresa realizar testes internos para certificar que o produto está no padrão de qualidade que ela busca entregar para os clientes.
Quais os testes mais comuns realizados num laboratório de indústria?
Os testes dependerão muito do produto, mas podemos classificá-los em:
- Laboratório Microbiológico: Presença de coliformes
- Laboratório Físico-químico: presença de contaminantes, composição química, teor de água, cor, aroma, ponto de ebulição.
O laboratório pode ser útil para realizar alguns testes no recebimento da matéria prima para controle de qualidade
O que precisa ter um laboratório de controle de qualidade?
Os componentes mais comuns em um laboratório são uma bancada com pia, uma balança de precisão, estufa de secagem, manta de aquecimento, autoclave, refrigerador, e prateleiras para organização dos materiais e vidrarias.
Devem ser instalados equipamentos de proteção coletiva, como capela de exaustão para trabalho com produtos químicos, lava olhos facilmente acessíveis, extintores de incêndio.
Recomenda-se pé direito de 4 metros com um mínimo de 3 metros para facilitar a circulação natural do ar e é necessário instalar sistema de circulação forçada de ar.
Cada laboratório deve ser projetado e dimensionado de acordo com a sua aplicação. Quem irá determinar em último caso o que é necessário é é o sistema de controle de qualidade da empresa, que irá determinar todas as análises que devem ser feitas.
Pode ser instalada uma área de quarentena em anexo ao laboratório para acompanhamento da vida útil de produtos com prazo de validade.
Normas aplicáveis:
A NR-8, do MTE (11), dispõe sobre as especificações para edificações
de ambientes de trabalho, e a NBR 13035 da ABNT (22), dispõe sobre planejamento
e instalação de laboratórios para análises e controle de águas.
É importante atenção especial para a NR 23 – proteção contra incêndio e NR 20 – trabalho com inflamáveis e combustíveis devido à natureza dos trabalhos em laboratório.
Escritórios
Geralmente as indústrias também possuem os setores administrativos instalados no mesmo terreno ou prédio.
Eles são geralmente construídos na frente, para que o pessoal não precise passar por dentro do setor produtivo para acessar os escritórios.
É importante manter o escritório o mais longe possível de setores como:
- Tratamento de efluentes, devido à emissão de odor. Ou instalar a ETE em uma posição onde o vento geralmente leve os odores para longe.
- Áreas de risco, como caldeiras, armazenamento de produtos inflamáveis, combustíveis ou tóxicos.
- Área com intenso barulho, como moinhos e compressores.
Nem sempre é possível instalar longe de tudo, neste caso serão tomadas ações mitigatórias para cada um dos casos.
Não pode haver comunicação entre os escritórios e a linha de produção sem antes passar por um setor de higienização (limpeza das mãos ou botas) ou vestimenta dos EPIs (jaleco, touca, capacete, protetores de ouvido)
Estacionamentos
Não basta instalar toda a indústria e não considerar o pessoal que irá trabalhar nela. Devem ser feitas vagas suficientes para os carros, áreas de estacionamento de bicicletas e embarque e desembarque de ônibus.
Em algumas indústrias é instalada portaria com cancelas, para controle de entrada e saída de pessoal.
A NBR 9050 traz algumas regras de acessibilidade, incluindo os estacionamentos.
Além disso, cada município possui leis que determinam as medidas específicas para os estacionamentos privados. Por exemplo, em São Paulo rege a Lei n. 11.228, de 25 de junho de 1992, chamada de Código de Obras e Edificações de São Paulo (COE).
Apesar das normas ajudarem na orientação do arquiteto, não basta segui-las de olhos vendados. Deve-se conhecer o público frequentador para dimensionar corretamente o estacionamento de acordo com o meio de transporte utilizado por eles. Em algumas localidades há maior utilização de transporte público, enquanto em outros se utiliza muito bicicleta, por exemplo.
Refeitórios
Este item é tratado na NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho.
A empresa deve decidir se irá oferecer almoço ou pagar vale refeição para os seus funcionários. Mesmo que não ofereçam almoço no local é importante um espaço de cozinha para alimentação individual
Este item é tratado na NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho.
A empresa deve decidir se irá oferecer almoço ou pagar vale refeição para os seus funcionários. Mesmo que não ofereçam almoço no local é importante um espaço de cozinha para alimentação individual
Vestiários e sanitários
Enfermaria
Conclusão
O projeto de uma indústria começa com a definição de como será feito o processo produtivo. Porém, isso é só o começo. Feito isso, precisamos cuidar de todos estes itens que exploramos no artigo.
Caso você precise de ajuda com alguma dessas etapas, fale conosco ou entre no nosso grupo de whats app para conversar com a comunidade.
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